segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Mr. Garvey

Semana comemorativa do aniversário do Guerreiro Marcus Garvey e seu exemplo de resistência

Por Reggaemovimento.com

Bunny Rugs - Marcus Garvey

Na semana de aniversário de um dos maiores líderes de resistência política e conscientização racial na Jamaica e mundo, Marcus Garvey, o Reggae Movimento traz um pouco da trajetória deste pensador e ativista, homem de fé, que deu fundamento e sentido a luta e resistência contra a opressão política, racial e religiosa em relação aos negros. É importante ressaltar que a contribuição deste incrível pensador e articulador serviram ainda de base para reflexões profundas e interpretações sensíveis por parte dos seguidores da fé Rastafari.

No fragmento do estudo "A Jamaica e o Reggae para além do tempo e das fronteiras", que se segue, poderão perceber a imensa inconformidade de Garvey e sua constante movimentação em direção a um entendimento mais profundo das mazelas de seu povo ao longo de inúmeras nações.

Garvey deu inúmeras lições ao longo de sua trajetória da importância do sentir-se livre e da necessidade de se colocar como agente participativo e contestatório, ao invés de simplesmente assistir ao espetáculo da existência em conformidade com as injustiças e incoerências de uma sociedade desumanizada dos valores reais.

Para nós fica o exemplo e a lição, e o convite para mergulhar mais na vida e legado deste importante nome na história da Jamaica, inspirador de inúmeros artistas que respeitamos e admiramos na música reggae, e líder tão admirado e reverenciado pela fé Rastafari.

Foto de Marcus Garvey

Descendente dos *Marrons, Garvey foi o mais novo de uma família de 11 filhos, do qual 9 morreram ainda na infância. Moravam na cidade de St. Ann´s Bay, na Jamaica. Na mesma região que décadas depois, outro descendente de Marrons de grande importância também nasceria: Bob Marley.

*comunidade tradicional radicada nas montanhas Jamaicanas desde o período da escravidão, onde foi ponto de resistência , refúgio e articulação dos escravos africanos fugidos)

Marcus Garvey continuou o legado de resistência Marron, só que desta vez com outras armas, uma bem mais conhecida do poder instituído, mas não menos temida: a palavra. Com ampla cultura e articulação intelectual, Garvey se destacou desde a infância como promissor homem de idéias. Utilizando ferramentas de comunicação e luta distintas das usadas até então por seu povo para conquistar a liberdade, o jovem Marcus trocou os tambores, conchas e berrantes, por livros, destreza lingüística e o carisma característico dos grandes pensadores.

Ainda em Saint Ann´s, na região montanhosa da Jamaica, Marcus iniciou sua trajetória pessoal e profissional como aprendiz de gráfico, tendo seu pai como mentor intelectual e sob tutela de seu padrinho Burrowes, desenvolveu-se com refinamento no oficio. Com 19 anos partiu para capital Kingston buscando melhores oportunidades de trabalho, conseguindo se estabelecer como datilógrafo. Rapidamente avançou em suas funções até estrear como jornalista.

A partir daí inicia-se o processo de tensão decorrente do desenvolvimento de suas idéias e maior articulação político-social. Dois anos após sua chegada na capital, Garvey já se envolvera em uma greve por melhores salários em sua categoria de trabalho, sendo esta sua primeira experiência sindical. Como conseqüência de seu apoio e empenho no movimento e posterior insucesso nas negociações, Garvey perdeu seu emprego, e foi colocado numa lista negra dos empregadores, sendo incapaz de arrumar outro emprego na tipografia privada. Conseguiu, no entanto, uma vaga na imprensa do governo. Por esses anos Garvey também teve sua primeira experiência com jornalismo político, ao ingressar no National Club of Jamaica, um clube político.

Em 1907 Garvey consegue uma oportunidade de trabalho na Costa Rica, exercendo a função de fiscal de plantações de banana. Inevitavelmente se depara com uma cena muito semelhante ao que seus ancestrais passaram. Só que agora sob a tutela de homens livres, centenas de trabalhadores exerciam suas funções nas lavouras em condições precárias, com ausência de direitos justos, longas jornadas de trabalho, e uma remuneração miserável. Mais uma vez Garvey não se conteve no silencio e apatia, encarando mais um desafio rumo a uma reflexão mais aprofundada dos fatos. Saiu da Costa Rica e decidiu partir rumo a outras regiões, viajando pela América Central e do Sul, trabalhando e observando as condições de trabalho dos negros; passou pela Guatemala, Panamá, Nicarágua, Equador,Chile e Peru. Constatou a concordância das mesmas condições miseráveis de seu povo, sempre subjugado à pobreza, desemprego e abandono.

Em 1912 Garvey viaja para Londres onde se matricula em uma universidade e conhece um professor, que desperta seu interesse pela cultura africana e suas civilizações. Quando retorna a Jamaica em 1914, funda a Universal Negro Improvement Association “U.N.I.A” , firmada sobre a frase de efeito “One God, One Aim, One Destiny”- Um Deus,Uma meta, um destino. Contava este movimento com várias reivindicações de caráter social e igualitário voltados a para a inclusão em todos os níveis do negro jamaicano, sobretudo na educação. A organização criada por Garvey veio a se tornar a maior em prol dos negros em todo mundo, chegando a conter 996 filiais, em 43 países, com mais de cinco milhões de membros. (Campbell,1987).

A experiência em Londres foi muito importante para Garvey, tanto no sentido de entender o funcionamento de uma democracia quanto pelo fato de poder entrar em contato com vários africanos que, nascidos em outras colônias britânicas, iam estudar na Inglaterra. Com essas pessoas Garvey percebeu que os problemas da Jamaica eram muito semelhantes aos problemas enfrentados por populações negras de todo o mundo. Foi ainda em Londres que ele entrou em contato com os líderes do Movimento Pan-Africano, e conheceu a obra de Booker T. Washington.

Em 1917 Marcus Garvey fundou uma base da U.N.I.A no Harlem, New York, estimulado pelos movimentos negros que se mostravam cada vez mais articulados e motivados a lutar por seus direitos civis. Esta época ficou conhecida entre os ativistas como “renascimento negro”, uma resposta a opressão e discriminação sofrida, principalmente na região sul dos Estados Unidos. Neste local radicais da supremacia branca alimentados e orientados pela ordem secreta Ku Klux Klan, se empenhava em subjugar e assassinar negros. Garvey enfrentava esta situação com o poder de suas palavras esclarecedoras, informando através de seus artigos e discursos a condição e os absurdos sofridos pela população negra.

Uma das maiores bandeiras levantadas por Garvey, foi o direito de repatriação, muito bem expresso no texto África para os africanos, cujo trecho esta subscrito abaixo.

“A cor se tornou importante porque o homem branco achou conveniente usar a diferença racial para explorar os homens negros do mundo. Como africanos, nós vamos usar a questão da raça para nos unirmos, e escapar da opressão por parte dos homens brancos. Enquanto pessoas negarem nossa humanidade pelo fato de ser negro, nós iremos defender nossa humanidade como negros”. (Campbell,1987)

Marcus Garvey como homem de fé assumidamente cristã, não aceitava o fato de a bíblia e a religião ser utilizada como imponente arma de opressão. Neste discurso mobiliza o povo negro a pensar em um Deus materializado como negro, e não com a imagem tão difundida pelos colonizadores, branco com seus traços fisicos. Para Garvey, esta era uma estratégia cruel de diminuir e afirmar uma supremacia não só de ordem humana, mas divina, do branco frente ao negro, e por isso, combateu com veemência em sua vida esta abordagem:

“A IMAGEM DE DEUS – Se o homem branco tem a imagem de um Deus branco, deixe-o adorar seu Deus da forma que ele deseje. Se o Deus dos homens amarelos é da sua mesma raça, deixe-os adorar a Deus da forma que lhes cabe. Nós somos negros, achamos um novo ideal. Embora Deus não tenha uma só cor, porém é visto de acordo com a cor do ser humano, e desde que o homem branco enxergue seu Deus, nós começamos apenas agora (tardiamente) a enxergar a Deus através da nossa própria imagem. O Deus de Isaac e o Deus de Jacob. Nós negros acreditamos no Deus da Etiópia, o eternos Deus – Deus o pai, Deus o filho, Deus o filho de Deus o espírito Santo, o Deus de todas as idades. Esse é o Deus a qual acreditamos, então nós devemos o adorar através de nossa própria imagem e através da Etiópia”. (GARVEV citado em CAMPBELL, 1987:132).

Cada vez mais motivado por seus ideais e pelo calor e esperança que inspirava a seus seguidores, Garvey se envolveu em um pretensioso e arriscado projeto junto com a U.N.I.A. Criou uma companhia de navegação chamada Black Star Line, que com quatro navios tinha a intenção de possibilitar a repatriação dos negros que viviam fora da África. Tal ambição da U.N.I.A despertou a fúria dos rivais políticos , justamente por ir contra os interesses do poder oficial instituído, branco e racista, que não via com bons olhos os ideais garvistas e sua influência na numerosa população negra americana. Garvey, então, se viu no centro de especulações e injúrias sendo julgado e condenado sob acusação de fraude. Esta condenação resultou em um enfraquecimento e questionamento da integridade de seu movimento , além de lhe render uma deportação para Jamaica.

Marcus Garvey voltou para a Jamaica sendo reverenciado e considerado um verdadeiro profeta do amor e da união, principalmente pelos rastafaris, seguidores de princípios cuja origem remonta ao século XVII quando um ex-escravo, George Liele, fundou uma Igreja Baptista (Native Baptiste Church) na Jamaica. A princípio pode parecer um pequeno passo, mas foi exatamente aí que começou o movimento Rastafari. Não é então por acaso que a Jamaica se transformou no palco central do movimento Rasta. Uma história de resistência abriu o caminho para o que viria a acontecer. Baseados em idéias bíblicas de volta a terra prometida (do Judaísmo) e motivados pela certeza de serem vítimas de uma despatriação violenta e desonesta, o movimento atraiu a simpatia de líderes religiosos e políticos, dispostos a aderir à causa negra. Garvey se transformou em um de seus líderes, uma vez que pregava (segundo a sua própria interpretação da Bíblia o repatriamento para África (sendo a Etiópia a terra prometida) e a chegada de um novo Messias que conduziria os negros do mundo inteiro à salvaçao. "Quando um rei negro for coroado na África, é sinal que a redenção está próxima." (Marcus Garvey, 1927).

O ideólogo jamaicano faleceu em 1940, mas suas idéias perpetuam até hoje, tanto na Jamaica , como em vários paises africanos e núcleos de movimentos negros dos Estados Unidos e Europa.

* Fragmento da Monografia "A Jamaica e o Reggae para além do tempo e das fronteiras" da Geógrafa Andréia da Cal Azeredo com orientação do Professor José Carlos Milléo. (Departamento de Geografia - UFF , Universidade Federal Fluminense, 2008)

2 comentários:

chucky`` disse...

aí..esse som do post eh irado newton!

salve Mr Garvey!

HELLOOOOOO BROKLYN!

chucky`` disse...
Este comentário foi removido pelo autor.